O monstro pariu <br>um monstro

António Santos

Não, os es­tado-uni­denses não são es­tú­pidos. Pre­fe­riram a lou­cura à pro­messa de novas guerras; es­co­lheram o ra­cista as­su­mido em de­tri­mento da can­di­data que clas­si­fica os ne­gros como pre­da­dores se­xuais. Quão mau é pre­ciso ser para ser mais re­pul­sivo que o homem mais re­pul­sivo do mundo? A vi­tória de Trump é, antes de mais, a ava­li­ação final a duas ad­mi­nis­tra­ções li­de­radas por Ba­rack Obama que tor­naram os tra­ba­lha­dores dos EUA mais po­bres e o mundo mais vi­o­lento. Ao longo das úl­timas se­manas, os se­guros de saúde atin­giram os preços mais altos de sempre, es­can­da­li­zando mais elei­tores que quais­quer men­sa­gens de cor­reio elec­tró­nico ou pa­la­vras obs­cenas. O povo dos EUA sabe que o mag­nata não é al­ter­na­tiva mas, como reza o hino da cam­panha de Trump, «não podes ter sempre aquilo que queres». Sem uma al­ter­na­tiva co­mu­nista, a classe tra­ba­lha­dora sabe que está con­de­nada a es­co­lher entre lou­cura na sopa ou sopa de lou­cura. Ga­nhou a sopa de lou­cura: na «maior» e mais pu­tre­facta de­mo­cracia do mundo é assim que o povo se ex­pressa.

Crise

En­ter­rando cen­tenas de son­da­gens, po­li­tó­logos, es­pe­ci­a­listas e ta­ró­logos, a vi­tória de Trump é a ex­pressão po­lí­tica da dis­tensão de uma crise eco­nó­mica que o ca­pi­ta­lismo não con­segue re­solver. Foi o es­go­ta­mento su­ces­sivo de todas as op­ções po­lí­ticas do ca­pital, de­mo­cratas ou re­pu­bli­canas, que criou o monstro cha­mado Trump. O ge­nuíno en­tu­si­asmo ge­rado pela eleição de Obama sob as di­visas da «es­pe­rança» e «mu­dança» trans­formou-se em ge­nuína de­si­lusão. Não aca­baram a prisão de Guan­tá­namo, nem o ra­cismo, nem a guerra, nem isen­ções fis­cais para os grandes grupos eco­nó­micos, nem a ace­le­ração da trans­fe­rência dos ren­di­mentos do tra­balho para o ca­pital. Ao en­tregar a pre­si­dência e as duas câ­maras do Con­gresso aos re­pu­bli­canos, os elei­tores es­tado-uni­denses pre­fe­riram o ori­ginal à imi­tação.

Por outro lado, a vi­o­lenta der­rota dos de­mo­cratas é também a der­rota de todos os que acre­di­taram que Clinton podia deter Trump. Em vez de cons­truírem uma al­ter­na­tiva de classe, im­por­tantes sec­ções da «es­querda» es­tado-uni­dense bai­xaram as armas e co­ro­aram Clinton como o «mal menor», tor­nando-se in­dis­tin­guí­veis na enorme amál­gama de «males» me­nores e pi­ores. É que Trump, ra­cista, se­xista, odi­ento, de­su­mano e obs­ceno tem ao menos o des­prezo de im­por­tantes sec­tores do grande ca­pital, da alta fi­nança e dos res­pec­tivos apa­re­lhos par­ti­dá­rios e me­diá­ticos.

In­cóg­nita

A grande in­cóg­nita da pre­si­dência de Trump será a con­dução da po­lí­tica im­pe­ri­a­lista. Os si­nais são con­tra­di­tó­rios: por um lado faz suas as po­si­ções si­o­nistas mais re­ac­ci­o­ná­rias, por outro, pro­mete pôr fim à es­ca­lada de pro­vo­ca­ções à Rússia e cortar o fi­nan­ci­a­mento ao Es­tado Is­lâ­mico. A cer­teza pos­sível é que Trump ex­tre­mará a luta de classes contra os tra­ba­lha­dores ser­vindo-se das armas de sempre: a re­pressão po­li­cial; o ra­cismo; a guerra contra as mu­lheres; a des­truição dos sin­di­catos; a xe­no­fobia, a ho­mo­fobia e a is­la­mo­fobia, ou numa só pa­lavra: ca­pi­ta­lismo.




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